Não há registo de casos em que o cultivo tenha feito um ser variável deixar de o ser. As nossas plantas de cultivo mais antigas, como o trigo, ainda produzem frequentemente novas variedades: os nossos animais domesticados mais antigos são ainda capazes de aperfeiçoamento ou modificação rápidos.
Tem-se discutido qual o período da vida em que as causas da variabilidade, quaisquer que sejam, geralmente actuam; se durante o período inicial ou tardio de desenvolvimento do embrião ou no instante da concepção. As experiências de Geoffroy S. Hillaire mostram que o tratamento contrário ao natural do embrião causa monstruosidades; e não se pode separar, segundo qualquer linha divisória clara, as monstruosidades das meras variações. Mas inclino-me fortemente para a suspeita de que se pode atribuir a causa mais frequente da variabilidade ao facto de os elementos reprodutivos masculino e feminino terem sido afectados anteriormente ao acto da concepção. Diversas razões me fazem acreditar nisto; mas a principal é o efeito notável que o confinamento ou o cultivo têm nas funções do sistema reprodutivo; sendo este sistema aparentemente muitíssimo mais susceptível do que qualquer outra parte da organização à acção de qualquer mudança nas condições de vida. Nada é mais fácil do que amansar um animal e poucas coisas são mais difíceis do que fazê-lo procriar livremente em cativeiro, mesmo nos muitos casos em que o macho e a fêmea se unem. Quantos animais há que não chegam a procriar, embora vivam durante muito tempo em cativeiro não muito rigoroso na sua região de origem! Isto é geralmente atribuído à corrupção do instinto; mas quantas plantas cultivadas exibem o máximo vigor e, no entanto, raramente ou nunca produzem semente! Em alguns, poucos, casos semelhantes, descobriu-se que muitas mudanças insignificantes, tais como um pouco mais ou menos de água num período particular de crescimento, determinarão se a planta dá ou não semente.