PrefácioTudo começou no Outono de 1929, quando Frederick Carter pediu a Lawrence um prefácio para o seu livro O Dragão do Apocalipse.
Sentado em Bandol, na vivenda «Beau Soleil» - tão perto do mar que as ondas pareciam querer visitá-lo no seu quarto, diz a memória de Frieda, sua mulher - vencido pela tuberculose que em meia dúzia de meses saberia dar-lhe o golpe final (Aldous Huxley fechou-lhe os olhos em 2 de Março de 1930, em Vence), D. H. Lawrence escrevia.
Insensível ao desastre do corpo, o sopro criativo teimava, escorria infatigável até ao bico da pena e fazia-o inventar as suas últimas histórias, de virgens e ciganos, de um Cristo que ressuscitava para a revelação suprema da carne, fazia-o defender-se de acusações de obscenidade, apontar o mais inflexível dos dedos à ilha inglesa e à sua sociedade hipócrita.
A pedido pensaria, pois, no Apocalipse bíblico: e foi como se mexesse num ninho de vespas. Esse remate do Novo Testamento que a sua educação protestante tinha repisado até ao ódio, desfigurado com interpretações mesquinhas e autoritárias, merecia um ajuste de contas mais vasto. Lawrence ultrapassou as dimensões do prefácio, transbordou, estendeu-se por 23 capítulos.