CAPÍTULO IX Ritmel precipitou-se sobre mim e arrancou-me o revólver.
Eu murmurei simplesmente:
- Bem! Será no primeiro porto a que chegarmos.
A condessa então adiantou-se, lívida como a cal e disse (nunca me esqueceu o som da sua voz):
- Ritmel, voltemos para Malta.
- Voltar para Malta! Voltar para Malta! Para quê, santo Deus!
Eu interpus-me, disse as coisas mais loucas:
- Ritmel, dê-me esse revolver, sejamos homens. Que as nossas ações tenham a altura dos nossos carateres. Nada mais simples. Nem a paixão pode retroceder, nem a honra condescender. A solução é a morte. Eu mato-me, fugi vós para bem longe…
Mas a condessa, que era a única que parecia ter ainda uma luz de razão dentro de si, repetiu, com a mesma firmeza, onde se sentia a dor oculta:
- Ritmel, voltemos para Malta.
Ele olhou-a um momento: a consciência da nossa odiosa situação pareceu então invadi-lo, subjuga-lo; vergou os ombros, obedeceu, foi dizer algumas palavras ao capitão do yacht.
Daí a um instante corríamos sobre Malta.
Houve um grande silêncio, como o cansaço daquela luta da paixão. Ritmel passeava rapidamente pelo convés, e sob a serenidade do seu rosto, sentia-se a tormenta que lhe ia dentro.
- Aqui está! disse ele de repente, parando e cruzando os braços, com um estranho fogo nos olhos. Acabou tudo! Voltamos para Malta. Que mais querem? Que nos resta agora? Dizer-nos adeus para sempre, para sempre! Íamos a Alexandria; estávamos salvos, sós, novos, felizes! E agora? Felicidade, amor, paixão, esperança, alegria, acabou tudo. Ah, pobre ingénuo! Falam-te na honra! Que honra a que me vai matar todos os dias, a que me arranca do meu paraíso, a que me torna o último desditoso! Honra! Que me resta a mim? Uma bala na India.