No fim, queres que te diga? Acho-a insignificante. Bonitos cabelos, sim. Não se fala noutra coisa! Mas tu deves conhece-la…
- Porquê?
- Tem dançado com Catain Ritmel, parecem íntimos. Tu ris?
- Eu?
- Não… tu riste!
- Nunca rio, senão quando quero chorar, minha querida!
- Tiens, tiens! - murmurou ela, olhando muito para mim.
E afastou-se. O meu pobre coração ficou em desordem. às vezes, na nossa alma, toca-se de repente a rebate, e as desconfianças adormecidas, acordam, tomam as suas armas, e fazem sobre nós um fogo cruel.
- Catain Ritmel aproximara-se.
- Vem radiante, disse-lhe eu. Quem é miss Shorn?
Ele respondeu gravemente:
- É a amiga íntima da minha irmã.
Fomos dançar. Era uma quadrilha. Pareceu-me triste.
Os movimentos da dança lembravam-me as cerimónias de um culto. O meu ramo ficou espalhado pelo chão. Nesse instante, sem saber porquê, detestei Paris, o ruido, o império; desejei as sombras de Sintra, os retiros melancólicos de Belas, cheios dos murmúrios da água.
Quis sair. Numa das últimas salas uma mulher alta, loira, tomava das mãos de um velho extremamente magro e distinto a sua sortie de ball.
Catain Ritmel, que me dava o braço, inclinou-se ao passar junto dela, e falando baixo para mim:
- Miss Shorn! disse ele.
Era realmente linda. Grandes cabelos loiros, fortes, luminosos; os olhos largos, inteligentes, sérios; um corpo perfeito.
Nessa noite chorei. No meu quarto as luzes e o fogão estavam acesos. Entrei, fui ao espelho precipitadamente. Deixei cair dos ombros o burnous. Ergui a cabeça, olhei a medo. A minha imagem aparecia ao fundo do quadro num vapor luminoso. Achei-me feia. Olhei mais. Tinha os braços nus, a cabeça erguida em plena luz. Lentamente a consciência de que eu estava linda assim, penetrou-me, encheu-me de alegria.