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Capítulo 38: CAPÍTULO V

Página 209
O imperador citava muitas vezes este dito, como sendo conjuntamente a crítica profunda de uma fisionomia e de um carater.

Carlos Fradique tinha por mim uma amizade elevada e sincera. Chamava-me seu querido irmão. Conhecia-me desde pequena, andara comigo ao colo. Em Paris tornou-se celebre; era o que se poderia chamar um filósofo do boulevard. Tinha sido lamy de coeur de Rigolboche, e quando ela rompeu por se ter apaixonado por Capoul, Carlos Fradique deixou-lhe no álbum uns versos quase sublimes, de um desdém cruel, de um cómico lúgubre, uma espécie de Dies irae do dandismo… Prometia à Rigolboche que quando ela morresse ele velaria para que ainda além do túmulo ela vivesse no chic, sentindo Paris na sepultura. Algumas das estrofes que ele traduziu para mim, e que depois se publicaram, fizeram sensação e escola…

E eu quinda te amo, ó pálida canalha,

Que sou gentil e bom,

Far-te-ei enterrar numa mortalha

Talhada à Benoiton!

Irei à noite com Marie Larife,

Vénus do macadam,

Fazer sentir ao pó do teu esquife

Os gostos do cancan…

E no tempo das courses, pelo verão

- Assim to juro eu -

Irei dar parte à tua podridão

Se o Gladiador venceu…

Eram dez horas. Carlos Fradique, com uma voz impassível, quase languida, contava as situações monstruosas de uma paixão mística que tivera por uma negra antropófaga. A sua veia, naquele dia, era toda grotesca.

- A pobre criatura, dizia ele, untava os cabelos com um óleo ascoroso. Eu seguia-a pelo cheiro. Um dia, exaltado de amor, aproximei-me dela, arregacei a manga e apresentei-lhe o braço nú. Queria fazer-lhe aquele mimo! Ela cheirou, deu uma dentada, levou um pedaço longo de carne, mastigou, lambeu os beiços e pediu mais. Eu tremia de amor, fascinado, feliz em sofrer por ela.

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pág. 209 (Capítulo 38)

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Capa do livro O Mistério da Estrada de Sintra
Páginas: 245
Página atual: 209

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CARTA AO EDITOR, 1
PRIMEIRA PARTE - EXPOSIÇÃO DO DOUTOR
CAPÍTULO I
5
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 14
CAPÍTULO IV 18
CAPÍTULO V 25
CAPÍTULO VI 30
CAPÍTULO VII 37
SEGUNDA PARTE - INTERVENÇÃO DE Z.
CAPÍTULO I
44
TERCEIRA PARTE - DE F… AO MÉDICO
CAPÍTULO I
50
CAPÍTULO II 56
CAPÍTULO III 60
QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I
79
CAPÍTULO II 85
CAPÍTULO III 91
CAPÍTULO IV 94
CAPÍTULO V 102
CAPÍTULO VI 108
CAPÍTULO VII 113
CAPÍTULO VIII 118
CAPÍTULO IX 123
CAPÍTULO X 125
CAPÍTULO XI 130
CAPÍTULO XII 134
CAPÍTULO XIII 138
CAPÍTULO XIV 143
CAPÍTULO XV 149
QUINTA PARTE - AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
154
CAPÍTULO II 163
CAPÍTULO III 165
CAPÍTULO IV 170
CAPÍTULO V 182
CAPÍTULO VI 187
SEXTA PARTE - A CONFISSÃO DELA
CAPÍTULO I
190
CAPÍTULO II 195
CAPÍTULO III 197
CAPÍTULO IV 204
CAPÍTULO V 208
CAPÍTULO VI 213
CAPÍTULO VII 217
CAPÍTULO VIII 221
CAPÍTULO IX 226
CAPÍTULO X 231
SÉTIMA PARTE - CONCLUEM AS REVELAÇÕES DE A. M. C.
CAPÍTULO I
236
CAPÍTULO II 240