Por quem são, acompanhem-nos! Um dia saberão porque motivo lhes saímos ao caminho mascarados. Damos-lhes a nossa palavra que amanhã estarão nas suas casas, em Lisboa. Os cavalos ficarão em Sintra daqui a duas horas.
Depois de uma breve relutância, que eu contribuí para desvanecer, o meu companheiro apeou-se e entrou no coupé. Eu segui-o.
Cederam-nos os melhores lugares. O homem que se achava em frente da parelha segurou os nossos cavalos; o que fizera cair o poldro subiu para a almofada e pegou nas guias; ou outros dois entraram connosco e sentaram-se nos lugares vizinhos aos nossos. Fecharam-se em seguida os stores de madeira dos postigos e correu-se uma cortina de seda verde que cobria por dentro os vidros laterais da carruagem.
No momento de partirmos, o que ia guiar bateu na vidraça e pediu um charuto. Passaram-lhe para fora uma charuteira de palha de Java. Pela fresta por onde recebeu os charutos lançou para dentro da carruagem a mascara que tinha no rosto, e partimos a galope.
Quando entrei para a carruagem pareceu-me avistar ao longe, vindo de Lisboa, um ónibus, talvez uma sege. Se me não iludi, a pessoa ou pessoas que vinham na carruagem a que me refiro terão visto os nossos cavalos, um dos quais é russo e o outro castanho, e poderão talvez dar notícia da carruagem em que íamos e da pessoa que nos servia de cocheiro. O coupé era, como já disse, verde e preto. Os stores, de mogno polido, tinham no alto quatro fendas estreitas e oblongas, dispostas em cruz.
Falta-me tempo para escrever o que ainda me resta por contar a horas de expedir ainda hoje esta carta pela posta interna.
Continuarei. Direi então, se o não suspeitou já, o motivo porque lhe oculto o meu nome e o nome do meu amigo.