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- Mas que diabo queres tu? - E a voz de Julião irritava-se. - A culpa é dela. É dela! - insistiu, vendo o olhar de Sebastião. - É uma mulher de vinte e cinco anos, casada há quatro, deve saber que se não recebe todos os dias um peralvilho, numa rua pequena, com a vizinhança a postos! Se o faz, é porque lhe agrada.
- Ó Julião! - disse muito severamente Sebastião.
E dominando-se, com a voz comovida:
- Não tens razão, não tens razão!
Calou-se muito magoado.
Julião levantou-se.
- Amigo Sebastião, eu digo o que penso; tu fazes o que entendes.
Chamou o criado.
- Deixa - disse Sebastião precipitadamente, pagando.
Iam sair. Mas então o sujeito calvo, atirando o jornal, arremessou-se para a porta, abriu-a, curvou-se, e estendeu a Sebastião um papel enxovalhado.
Sebastião, surpreendido, leu alto, maquinalmente:
- "O abaixo-assinado, antigo empregado da nação, reduzido a miséria..."
- Fui íntimo amigo do nobre Duque de Saldanha! - gemeu chorosamente, com uma rouquidão, o sujeito calvo.
Sebastião corou, cumprimentou, meteu-lhe na mão duas placas de cinco tostões, discretamente.
O sujeito dobrou profundamente o espinhaço e declamou com uma voz cava:
- Mil agradecimentos a Vossa Excelência, senhor conde!