CAPÍTULO VII Por esse tempo, uma manhã que Luísa ia para o Paraíso viu de repente sair de um portal, um pouco adiante do Largo de Santa Bárbara, a figura azafamada de Ernestinho.
- Por aqui, prima Luísa! - exclamou ele logo muito surpreendido. - Por estes bairros! Que faz por aqui? Grande milagre!
Vinha vermelho; trazia as bandas do casaco de alpaca todas deitadas para trás, e agitava com excitação um rolo grosso de papéis.
Luísa ficou um pouco embaraçada; disse que viera fazer uma visita a uma amiga. - Oh! Ele não conhecia; tinha chegado do Porto...
- Ah, bem! Bem! E que é feito, como tem passado? Quando vem o Jorge? - Desculpou-se logo de a não ter ido ver; mas é que não tinha uma migalha livre! De manhã a alfândega; à noite os ensaios...
- Então sempre vai? - perguntou Luísa.
- Vai.
E entusiasmado:
- E como vai! Um primor! Mas que trabalhão, que trabalhão! - Agora vinha ele de casa do ator Pinto, que fazia o papel de amante, de Conde de Monte Redondo; tinha-o ouvido dizer as palavras finais do terceiro ato: "Maldição, a sorte funesta esmaga-me! Pois bem arcarei braço a braço com a sorte! À luta!" Era uma maravilha! Vinha também de lhe dar parte que alterara o monólogo do segundo ato. O empresário achava-o longo...
- Então continua a implicar, o empresário?
Ernestinho fez uma visagem de hesitação.
- Implica um bocado... - E com um rosto radioso: - Mas está delirante! Estão todos delirantes! Ontem me dizia ele: "Lesminha"... E o nome que me dão por pândega. Tem graça, não é verdade? Dizia-me ele "Lesminha, na primeira representação cai aí Lisboa em peso! Você enterra-os a todos!" É bom homem! E agora vou-me a casa do Bastos, o folhetinista da Verdade. Não conhece?
Luísa não se lembrava bem.