Fixou Jorge um momento de um modo desvairado, estendeu os braços sem poder falar, levou as mãos à cabeça com um gesto ansioso como se se sentisse ferida, e oscilando, com um grito rouco, caiu sobre os joelhos, ficou estirada no tapete.
Jorge gritou. As criadas acudiram. Estenderam-na na cama. Ele quis que Joana corresse a chamar Sebastião; e ficou, como petrificado, junto ao leito, olhando-a, enquanto Mariana toda trémula desatacava os espartilhos da senhora.
Sebastião veio logo. Felizmente havia éter, fizeram-lho respirar; apenas abriu lentamente os olhos, Jorge precipitou-se sobre ela:
- Luísa, ouve, fala! Não, não tem dúvida. Mas fala. Dize, que tens?
Ao ouvir a voz dele desmaiou outra vez. Movimentos convulsivos sacudiam-lhe o corpo. Sebastião correu a buscar Julião.
Luísa parecia adormecida agora, imóvel, branca como cera, as mãos pousadas sobre a colcha; e duas lágrimas corriam-lhe devagar pelas faces.
Um trem parou, Julião apareceu esbaforido.
- Achou-se mal de repente... Vê, Julião. Está muito mal! - disse Jorge. Fizeram-lhe respirar mais éter; despertou outra vez. Julião falou-lhe, tomando-lhe o pulso.
- Não, não, ninguém! - murmurou ela retirando a mão. Repetiu com impaciência: - Não, vão-se, não quero... - As suas lágrimas redobravam. E como eles saiam da alcova para a não excitar contrariando-a, ouviram-na chamar:
- Jorge!
Ele ajoelhou-se ao pé da cama, e falando-lhe junto do rosto:
- Que tens tu? Não se fala mais em tal. Acabou-se. Não estejas doente. Juro-te, amo-te... Fosse o que fosse, não me importa. Não quero saber, não.
E como ela ia falar, ele pousou-lhe a mão na boca:
- Não, não quero ouvir. Quero que estejas boa, que não sofras! Dize que estas boa! Que tens? Vamos amanhã para o campo, e esquece-se tudo.