Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 14: Capítulo 14

Página 389
IV

Foi num sábado que Afonso da Maia partiu para Santa Olávia. Cedo nesse mesmo dia, Maria Eduarda, que o escolhera por ser de boa estreia, instalara-se nos Olivais. E Carlos, voltando de Santa Apolónia, onde fora acompanhar o avô, com o Ega, dizia-lhe alegremente:

- Então aqui ficamos nós sós a torrar, na cidade de mármore e de lixo...

- Antes isso, respondeu o Ega, que andar de sapatos brancos, a cismar, por entre a poeirada de Sintra!

Mas no domingo, quando Carlos recolheu ao Ramalhete ao anoitecer - Baptista anunciou que o Sr. Ega tinha partido nesse momento para Sintra, levando apenas livros e umas escovas embrulhadas num jornal... O Sr. Ega tinha deixado uma carta. E tinha dito:

«Baptista, vou pastar.»

A carta, a lápis, numa larga folha de almaço, dizia: «Assaltou-me de «repente, amigo, juntamente com um horror à caliça de Lisboa, uma saudade «infinita da natureza e do verde. A porção de animalidade que ainda resta no meu «ser civilizado e recivilizado precisa

urgentemente de espolinhar-se na relva, beber «no fio dos regatos, e dormir balançada num ramo de castanheiro. O solicito «Baptista que me remeta amanhã pelo ónibus a mala com que eu não quis «sobrecarregar a tipoia do Mulato. Eu demoro-me apenas três ou quatro «dias. O tempo de cavaquear um bocado com o Absoluto no alto dos «Capuchos, e ver o que estão fazendo os miosótis junto à meiga fonte dos Amores...»

- Pedante! rosnou Carlos, indignado com o abandono ingrato em que o deixava o Ega. E atirando a carta:

- Baptista! O Sr. Ega diz aí que lhe mandem uma caixa de charutos, dos Imperiales. Manda-lhe antes dos flor de Cuba. Os Imperiales são um veneno. Esse animal nem fumar sabe!

Depois de jantar Carlos percorreu o Fígaro, folheou um volume de Byron, bateu carambolas solitárias no bilhar, assobiou malagueñas no terraço - e terminou por sair, sem destino, para os lados do Aterro. O Ramalhete entristecia-o, assim mudo, apagado, todo aberto ao calor da noite.

<< Página Anterior

pág. 389 (Capítulo 14)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 389

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605