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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 512
Tudo nela era harmonioso, são, perfeito... E quanto aquela serenidade da sua forma devia tornar delicioso o ardor da sua paixão! Carlos era positivamente o homem mais feliz destes reinos! Em torno dele só havia facilidades, doçuras. Era rico, inteligente, de uma saúde de pinheiro novo; passava a vida adorando e adorado; só tinha o número de inimigos que é necessário para confirmar uma superioridade; nunca sofrera de dispepsia; jogava as armas bastante para ser temido; e na sua complacência de forte nem a tolice publica o irritava. Ser verdadeiramente ditoso!.

- Quem é por fim esse Rufino? perguntou Carlos, alongando mais os pés pelo tapete, quando Maria findou a canção de Ofélia.

Ega não sabia. Ouvira que era um deputado, um bacharel, um inspirado...

Maria, que procurava os nocturnos de Chopin, voltou-se:

- É esse grande orador de que falavam na Toca?

Não, não! Esse era outro, a sério, um amigo de Coimbra, o José Clemente, homem de eloquência e de pensamento... Este Rufino era um ratão de pêra grande, deputado por Monção, e sublime nessa arte, antigamente nacional e hoje mais particularmente provinciana, de arranjar, num voz de teatro e de papo, combinações sonoras de palavras...

- Detesto isso! rosnou Carlos.

Maria também achava intolerável um sujeito a chilrear, sem ideias, como um pássaro num galho de árvore...

- É conforme a ocasião, observou Ega, olhando o relógio. Uma valsa de Strauss também não tem ideias, e à noite, com mulheres numa sala, é deliciosa...

Não, não! Maria entendia que essa retórica amesquinhava sempre a palavra humana, que, pela sua natureza mesma, só pode servir para dar forma, às ideias. A música, essa, fala aos nervos. Se se cantar uma marcha a uma criança, ela ri-se e salta no colo...

- E se lhe leres uma página de Michelet, concluiu Carlos, o anjinho seca-se e berra!

- Sim, talvez, considerou o Ega. Tudo isso depende da latitude e dos costumes que ela cria. Não há inglês, por mais culto e espiritualista, que não tenha um fraco pela força, pelos atletas, pelo sport, pelos músculos de ferro.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 512

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605