Capítulo VIII Não consegui dormir toda a noite: uma buzina de nevoeiro uivava sem cessar, no Sound, e eu dava voltas na cama, meio doente, entre a grotesca realidade e sonhos brutais, aterradores. Perto da madrugada, ouvi um táxi subir o acesso da casa de Gatsby, saltei logo da cama e comecei a vestir-me - senti que tinha alguma coisa para lhe dizer, um aviso qualquer a fazer-lhe e que de manhã seria demasiado tarde.
Ao atravessar o seu relvado, vi que a porta de entrada continuava aberta e que ele se apoiava a uma mesa do hall, - abatido de sono ou de desgosto.
- Não aconteceu nada - disse ele, sem vigor. - Esperei e cerca das quatro horas ela veio à janela, ali ficou um minuto e depois apagou a luz.
Nunca a casa dele me parecera tão enorme como nessa madrugada em que corremos os compartimentos todos à procura de cigarros. Afastámos cortinados que pareciam pavilhões e tacteámos às escuras metros sem conta de parede para encontrar os interruptores - cheguei a espalhar-me ao comprido sobre o teclado de um piano fantasma. Era pó por todo o lado e os compartimentos cheiravam a mofo, como se há muitos dias não fossem arejados. Encontrei o «humidor» em cima de uma mesa invulgar, com dois cigarros secos e velhos lá dentro. Abrimos de par em par as portas envidraçadas da sala de visitas e ali nos sentámos a fumar às escuras.
- Você devia ir-se embora - disse eu. - É mais que certo que acabam por descobrir o seu carro.
- Ir-me embora já, meu velho?
- Vá para Atlantic City ou para Montreal e deixe-se por lá estar para aí uma semana.
Mas nem sequer admitiu a hipótese. Não podia abandonar Daisy enquanto não soubesse o que ela queria fazer. Estava agarrado com unhas e dentes a uma última esperança e não tive coragem de o abanar, para que se libertasse dela.