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Capítulo 4: Porque escrevo tão bons livros

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Porque escrevo tão bons livros

1

Eu sou uma coisa e os meus escritos outra. Antes de falar deles, tratarei aqui o problema da compreensão ou incompreensão desses escritos, Fá-lo-ei com todo o desinteresse que convém: pois este problema não é ainda actual. Eu também não sou actual, alguns nascem prematuros.

Dia virá em que se tornem necessárias instituições nas quais se viva e se ensine como eu quis viver e ensinar; talvez se criem também cátedras especiais para a interpretação de Zaratustra. Sinal, porém, seria de total contradição comigo próprio o pedir já hoje olhos e ouvidos 'atentos para as minhas verdades: que hoje não se escute, que hoje não Se queira aprender nada de mim, isso não é só compreensível, mas justo. Não pretendo semear confusões a meu respeito, e começo por o não fazer. Digo-o uma vez mais, na minha vida pode encontrar-se pouca «má vontade» de que eu tenha sido objecto; nem até de «má vontade» literária poderia contar um único caso. Em contrapartida, tanta ingenuidade!... Parece-me que uma pessoa, ao pegar num livro meu, se concede uma das mais raras distinções - e admito mesmo que tire as luvas, para não falar já dos sapatos!... Quando uma vez o Doutor Henrique de Stein lamentou sinceramente não compreender uma palavra do meu Zaratustra, disse-lhe eu que estava certo: compreender seis frases desse livro, significa tê-las vivido, o que ergue os mortais a nível mais alto do que aquele a que os homens «modernos» podem chegar... E como poderia eu, com tal sentimento de distância, desejar ser lido pelos «modernos» que conheço! O meu triunfo é precisamente o contrário do de Schopenhauer: eu digo: «non legar, non legar», «não sou lido, não serei lido.»

Não quero deixar de acentuar no grau devido o prazer que me deu a ingenuidade aplicada em dizer «não» aos meus escritos.

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Capa do livro Ecce Homo
Páginas: 115
Página atual: 41

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇAO 1
Porque sou tão sábio 5
Porque sou tão sagaz 20
Porque escrevo tão bons livros 41
A Origem da Tragédia 52
Considerações intempestivas 58
Humano, demasiado Humano 64
Aurora 71
O Alegre Saber 75
Assim falou Zaratustra 76
Para além do Bem e do Mal 91
Genealogia da moral 93
Crepúsculo dos ídolos 95
O caso Wagner 98
Por que sou uma fatalidade 106