Capítulo 58: Capítulo 58
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Não é manu, mas a natureza que separa em uma classe aqueles que preponderam intelectualmente, em outra aqueles que são notáveis pela força muscular e temperamento, e numa terceira aqueles que não se distinguem, que somente demonstram mediocridade — esta última representa a grande maioria, as duas primeiras são a elite. A casta superior — que denomino a dos pouquíssimos — tem, sendo a mais perfeita, privilégios correspondentes: representa a felicidade, a beleza e tudo de bom sobre a Terra. Apenas os homens mais intelectuais têm direito à beleza, ao belo; apenas entre eles a bondade não significa fraqueza. Pulchrum est paucorum hominum (a beleza é para poucos): ser bom é privilégio. Nada lhes é mais impróprio que a rudeza, o olhar pessimista, os olhos afinados com a fealdade — ou a indignação por causa do aspeto geral das coisas. A indignação é um privilégio dos chandala; assim como o pessimismo. “O mundo é perfeito” — assim fala o instinto dos mais intelectuais, o instinto do homem que diz sim à vida. “A imperfeição, tudo que é inferior a nós, a distância, o pathos da distância, os próprios chandala, são parte dessa perfeição”. Os homens mais inteligentes, sendo os mais fortes, encontram sua felicidade onde outros encontrariam apenas desastre: no labirinto, na dureza para consigo e para com os outros, no esforço; seu prazer está na autossuperação; neles o ascetismo torna-se uma segunda natureza, uma necessidade, um instinto. Consideram tarefas difíceis como um privilégio; para eles é um entretenimento lidar com fardos que esmagariam todos os outros... Conhecimento — uma forma de ascetismo. — Representam o tipo mais honroso de homens: mas isso não impede que também sejam os mais amáveis e mais alegres.
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Páginas: 117
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