Mas a hierarquia que foi posta em causa por esse movimento, ainda que por apenas um instante, era uma jangada que, acima de tudo, era necessária à segurança do povo judaico em meio às “águas” — representava sua última possibilidade de sobrevivência; era o último
residuum (resíduo) de sua existência política independente; um ataque contra isso era um ataque contra o mais profundo instinto nacional, contra a mais tenaz vontade de viver de um povo que jamais existiu sobre a Terra. Esse santo anarquista incitou o povo de baixeza abissal, os réprobos e “pecadores”, os chandala do judaísmo a emergirem em revolta contra a ordem estabelecida das coisas — e com uma linguagem que, se os Evangelhos merecem crédito, hoje o conduziria à Sibéria —, esse homem certamente era um criminoso político, ao menos tanto quanto era possível o ser em uma comunidade tão absurdamente apolítica. Foi isso que o levou à cruz: a prova consiste na inscrição colocada sobre ela. Morreu pelos seus pecados — não há qualquer razão para se acreditar, não importa quanto isso seja afirmado, que tenha morrido pelo pecado dos outros.