Nem se sabia o que lhes acontecia, além de alguns enforcados como criminosos de guerra: os outros desapareciam, presumivelmente em campos de trabalhos forçados. Aos rostos redondos dos mongóis se haviam sucedido faces de tipo mais europeu, sujas, barbudas e exaustas, de zigomas salientes. Seus olhos às vezes fitavam os de Winston, com estranha intensidade, e se afastavam. O comboio terminava. No último camião vinha um velho, o rosto coberto de cabelo grisalho desgrenhado, viajando de pé com os punhos juntos cruzados diante do peito, como se estivesse acostumado a algemas. Era quase chegado o momento dos dois se separarem. Mas no último instante, quando a multidão ainda os prendia, a mão da moça procurou a de Winston e apertou-a ligeiramente. O aperto de mão não durou nem dez segundos e no entanto pareceu que as mãos tinham estado juntas longo tempo. Ele teve tempo de aprender todos os detalhes daquela mão. Explorou os longos dedos afuselados, as unhas bem-feitas, a palma calejada pelo trabalho duro, a carne macia do pulso. Decorou-a pelo tato e soube que a reconheceria se a visse. No mesmo instante ocorreu-lhe que ainda não sabia a cor dos olhos da moça. Deviam ser castanhos, mas não raro gente de cabelo escuro tem olhos azuis. Voltar a cabeça e olhá-la seria uma loucura inconcebível. Com as mãos se apertando, invisíveis em meio aos corpos, os dois olhavam firmes para a frente, e ao invés dos da jovem, os olhos do velho prisioneiro fitaram melancolicamente Winston por entre as grenhas de cabelo encanecido.