O corpo muito branco lampejou ao sol. Mas, por um momento, ele não o olhou. Tinha os olhos grudados na face sardenta, no leve sorriso de ousadia. Ajoelhou-se diante dela e tomou-lhe as mãos.
- Já fizeste isto antes?
- Naturalmente. Centenas de vezes... quer dizer, muitíssimas vezes.
- Com membros do Partido?
- Sempre com membros do Partido.
- Do Partido Interno?
- Não, com aqueles porcos, não. Mas há uma porção que gostaria de fazer uma fezinha, se tivesse oportunidade. Não são tão santos quanto pretendem.
O coração dele deu um pincho. Muitíssimas vezes, dissera ela. Oxalá tivessem sido centenas... milhares. Tudo quanto cheirasse a corrupção o enchia sempre de ardentes esperanças. Quem poderia saber? O Partido talvez estivesse podre sob a crosta superior; seu culto da severidade é a auto negação podiam ser apenas uma máscara da iniquidade. Se pudesse infecioná-los todos com lepra ou sífilis, com que prazer o faria! Tudo que servisse para apodrecer, debilitar, minar! Ele puxou-a para baixo, fê-la ajoelhar-se à sua frente.
- Escuta. Quantos mais homens tiveste, mais te quero. Compreendes?
- Perfeitamente.
-Odeio a pureza, odeio a virtude. Não quero que exista virtude alguma, em parte nenhuma. Quero que todos sejam corruptos até os ossos.
- Então eu sirvo, querido. Sou corrupta até os ossos.
- Gostas de fazer isto? Não me refiro a mim, somente. Gostas da coisa em si?
- Adoro!
Acima de tudo, era o que ele desejava ouvir. Não somente o amor de uma pessoa, mas o instinto animal, o desejo simples, indiscriminado; era a força que faria a derrocada do Partido. Apertou-a contra o chão, esmagando campânulas. Desta vez não houve empecilho. Dentro de alguns instantes, o ofegar do peito de ambos voltou ao normal, e com um agradável torpor, caíram separados.