E era sempre à noite - as prisões eram sempre à noite.
O súbito arranco ao sono, a mão rude sacudindo o ombro, as luzes ferindo os olhos, o círculo de caras implacáveis em torno da cama. Na vasta maioria dos casos não havia julgamento, nem notícia da prisão. As pessoas simplesmente desapareciam, sempre durante a noite. O nome do cidadão era removido dos registros, suprimida toda menção dele, negada sua existência anterior, e depois esquecido. Era-se abolido, aniquilado; vaporizado era o termo corriqueiro.
Winston foi dominado por breve ataque de histeria. Pôs-se a escrever em garranchos apressados:
me darão um tiro que me importa me darão um tiro na nuca não me importa abaixo o grande irmão eles sempre dão tiro na nuca que me importa abaixo o grande irmão Ergueu-se um pouco na cadeira, ligeiramente envergonhado de si próprio, e largou a caneta. Dali a um segundo levou um susto enorme. Batiam à porta.
Já?! Deixou-se ficar, quieto como um camondongo, na esperança vã de que a pessoa se fosse sem insistir. Mas não, a batida repetiu-se. Seria pior atrasar-se. Com o coração batendo como um tambor - mas com a face provavelmente sem expressão, graças ao velho hábito - ele levantou-se e encaminhou-se para a porta a passos tardos.