Todo trabalho sujo era feito pelos políticos.
Havia um contínuo fluxo e refluxo de presos de todo gênero: vendedores de entorpecentes, ladrões, bandidos, mercadonegristas, bêbados, prostitutas. Alguns bêbados eram tão violentos que os companheiros de cela tinham de juntar forças para dominá-los. Uma mulheraça de uns sessenta anos, de enormes seios como pêndulos, e grossas melenas de cabelo branco esgrouviado, foi levada para a cela, gritando e dando pontapés, por quatro guardas que a seguravam pelos braços e pernas. Arrancaram as botinas com que ela tentara atingi-los e jogaram-na no colo de Winston, quase quebrando seus fémures. A mulher ergueu-se e cumprimentou-lhes a saída com um grito de "Filhos da p...!" Depois, percebendo que estava sentada nalguma coisa incómoda, escorregou dos joelhos de Winston para o banco.
- Desculpe, queridinho. Eu não sentaria em cima de você, foram os sacanas que me puseram aí. Não sabem nem tratar uma senhora, sabem? - Fez uma pausa, bateu no peito, e arrotou. - Perdão, não me estou sentindo muito bem.
Curvou-se para frente e vomitou copiosamente no chão.
- Tá melhor, assim - disse, tornando a endireitar-se, fechando os olhos. - Nunca segurar a vontade, é o que eu digo. Soltar tudo enquanto está fresco no estômago.
Retemperou-se, tornou a olhar para Winston e imediatamente pareceu ter simpatizado com ele. Passou por seus ombros um braço enorme e puxou-o para perto, fungando cerveja e vômito na cara dele.
- Como é seu nome, queridinho?
- Smith.
- Smith? Engraçado! Meu nome também é Smith!
E acrescentou, sentimental:
- Eu podia ser sua mãe!
Podia, pensou Winston. Tinha mais ou menos a idade e o físico, e era provável que as pessoas mudassem muito em vinte e cinco anos de trabalhos forçados.