Era curioso que pensasse nela tão raramente. Às vezes, passava dias e dias sem se lembrar de que fora casado. Tinham vivido juntos apenas quinze meses. O Partido não permitia o divórcio, mas até incentivava a separação quando não havia filhos.
Katharine era uma moça alta, de cabelos claros, muito ereta, de esplêndidos movimentos. Tinha rosto ousado, aquilino, que se poderia chamar nobre até se descobrir não haver Praticamente nada por trás dele. Logo no começo da vida conjugal descobrira que Katharine possuía, sem exceção, a mente mais estúpida, vulgar e vazia que já conhecera - embora fosse talvez por conhecê-la mais intimamente que à maioria das pessoas. Não tinha na cabeça um pensamento que não fosse uma palavra de ordem, e não havia imbecilidade, absolutamente nenhuma, que ela não engolisse se o Partido a impingisse. Dera-lhe, para uso interno, o apelido de "banda sonora humana". Todavia, aguentaria viver com ela se não fosse uma coisa - sexo.
Assim que a tocava, a esposa parecia se encolher e enrijar. Abraçá-la era o mesmo que cingir uma imagem de madeira articulada. E o estranho era que, mesmo quando ela o apertava contra o seu corpo, ele tinha a impressão de que o repelia com todas as suas forças. Era a rigidez dos seus músculos que dava aquela impressão. Deixava-se ficar de olhos fechados, sem resistir nem cooperar, apenas- se submetendo. Embaraçava extraordinariamente, e tornava-se horrível depois de algum tempo. Entretanto, ele suportaria viver com ela, se pudessem combinar manter o celibato Mas foi a própria Katharine quem recusou esse arranjo. Disse que deviam produzir um filho, se possível. De modo que o exercício continuou a ter lugar, uma vez por semana, regularmente, sempre que não fosse impossível.