Auto da Índia - Cap. 5: Parte IV Pág. 21 / 22

AMA

E eu cá [a] esmorecer,

Fazendo mil devações,

470Mil choros, mil orações.

MARIDO

Assi havia de ser...

AMA

Juro-vos que de saudade

Tanto de pão não comia

A triste de mi cada dia.

Doente, era ua piedade.

Já carne nunca a comi:

Esta camisa que trago

Em vossa dita a vesti,

Porque vinha bom mandado.

Onde não há marido

Cuidai que tudo é tristura,

Não há prazer nem folgura;

Sabei que é viver perdido.

Alembrava-vos eu lá?

MARIDO

E como!

AMA

Agora, aramá:

Lá há índias mui fermosas;

Lá faríeis vós das vossas

E a triste de mi cá.

Encerrada nesta casa,

Sem consentir que vizinha

Entrasse por ua brasa,

Por honestidade minha.

MARIDO

Lá vos digo que há fadigas,

Tantas mortes, tantas brigas,

E perigos descompassados,

Que assi vimos destroçados.





Os capítulos deste livro