Farsa de Inês Pereira - Cap. 2: Farsa de Inês Pereira Pág. 3 / 42

Todas folgão, e eu não,

Todas vem e todas vão

Onde querem, senão eu.

Hui! e que peccado he o meu,

Ou que dor de coração?

Esta vida he mais que morta.

Sam eu coruja ou corujo,

Ou sam algum caramujo

Que não sae senão à porta?

E quando me dão algum dia

Licença, como a bugia,

Que possa estar à janela,

He já mais que a Madanela

Quando achou a alleluïa.

Vem a Mãe, e diz:

MÃE

Logo eu adivinhei

Lá na missa onde eu estava,

Como a minha Ines lavrava

A tarefa que lh’eu dei.

Acaba esse travesseiro!

Hui! Nasceu-te algum unheiro?

Ou cuidas que he dia sancto?

INES

Praza a Deos que algum quebranto

Me tire do cativeiro.

MÃE

Toda tu estás aquella!

Chórão-te os filhos por pão?

INES

Prouvesse a Deos! Que já he rezão

De eu não estar tão singela.





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