Farsa de Inês Pereira - Cap. 2: Farsa de Inês Pereira Pág. 5 / 42

LIANOR

Não sei como tenho siso.

Jesu! Jesu! que farei?

Não sei se me va a elRei,

Se me vá ao Cardial.

MÃE

Como? e tamanho he o mal?

LIANOR

Tamanho? eu to direi.

Vinha agora pereli

Ó redor da minha vinha,

E hum clérigo, mana minha,

Pardeos, lançou mão de mi;

Não me podia valer,

Diz que havia de saber

Sera eu femea, se macho.

MÃE

Hui! seria algum mochacho,

Que brincava por prazer?

LIANOR

Si, mochacho sobejava

Era hum zote tamanhouço!

Eu andava no retouço,

Tão rouca que não falava.

Quando o vi pegar comigo,

Que m’achei naquele p’rigo,

Assolverei!, não assolverás –

– Jesu! homem, qu’has comtigo?

Irmam, eu te assolverei

Co breviairo de Braga.

– Que breviairo, ou que praga?

Que não quero: aqui d’elRei! –

Quando viu revolta a voda,

Foi e esfarrapou-me toda

O cabeção da camisa.





Os capítulos deste livro