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Capítulo 18: X

Página 186
X

Pouco a pouco, aqueles receios de Rodolphe tomaram posse dela.

O amor tinha começado por embriagá-la, não a deixando pensar em mais nada. Mas agora, que se lhe havia tornado indispensável à vida, receava sofrer-lhe a mínima perda, ou até mesmo perturbá-lo. Quando voltava de casa dele, lançava em torno de si olhares inquietos, vigiava cada vulto que passasse no horizonte e cada postigo da vila donde pudesse ser avistada. Escutava os passos, os gritos, o ruído das charruas; parava mais pálida e mais trémula do que as folhas dos choupos balouçando por cima da sua cabeça.

Certa manhã em que voltava para casa pareceu-lhe de repente distinguir o longo cano duma carabina que dava a impressão de estar apontada para ela. Saía obliquamente do rebordo dum barril, meio escondido na vegetação, à beira duma vala. Emma, quase a desmaiar de terror, continuou no entanto a avançar, quando do barril surgiu um homem, à semelhança daqueles diabos que saltam repentinamente do fundo das caixinhas de

surpresas. Tinha polainas afiveladas até aos joelhos, boné enfiado até aos olhos, os lábios a tremer e o nariz vermelho. Era Binet, o comandante dos bombeiros, à espera dos patos bravos.

- Devia ter avisado de longe! - exclamou ele. - Quando se vê uma espingarda, deve-se sempre dar sinal.

Com este arrazoado, o tesoureiro procurava dissimular o medo que acabara de sentir; porque, existindo uma postura municipal que proibia a caça aos patos a não ser de barco, o Sr. Binet, apesar do seu respeito pelas eis, encontrava-se em transgressão. De maneira que lhe parecia surgir, a cada instante, o guarda-florestal. Mas este sobressalto excitava-lhe o prazer e, sozinho dentro do seu barril, felicitava-se pela sorte e pela esperteza que tinha.

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Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 186

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373