XII Recomeçaram a amar-se. Frequentemente, até ao meio do dia, Emma resolvia escrever-lhe; depois, por dentro dos vidros, fazia sinal a justin, que desatava rapidamente o avental e corria à Huchette. Rodolphe chegava; era para lhe dizer que estava enfadada, que o marido lhe era odioso e que levava uma existência horrível!
- Posso eu porventura fazer alguma coisa? - exclamou ele um dia, impaciente.
- Ah!, se tu quisesses!...
Ela estava sentada no chão, entre os joelhos dele, com os cabelos soltos, o olhar perdido.
- Continua - disse Rodolphe. Ela suspirou.
- Iríamos viver juntos longe daqui..., em qualquer parte...
- Estás louca, realmente! - disse ele a rir. - Como pode ser uma coisa dessas?
Ela insistiu no assunto; ele fez que não compreendia e desviou a conversação.
O que ele não compreendia era toda aquela perturbação numa coisa tão simples como o amor. Emma tinha um motivo, uma razão, como que um reforço para a sua dedicação.
Aquela ternura, com efeito, aumentava de dia para dia, com a repulsa que sentia pelo marido. Quanto mais se entregava a um, mais detestava o outro; nunca Charles lhe parecia tão desagradável, ter as mãos tão sapudas, o espírito tão grosseiro e os modos tão vulgares como depois destes encontros com Rodolphe, em quê passavam algum tempo juntos. Então enquanto fazia de esposa e mulher virtuosa, sentia-se inflamar pela ide:"" daquela cabeça cujos cabelos negros se enrolavam em caracol sobre a írorte crestada, daquele corpo ao mesmo tempo tão robusto e tão elegante daquele homem, enfim, tão cheio de experiência e discernimento, tã arrebatado no desejo! Era para ele que limava as unhas com um cuidado cinzelador e punha sempre mais could cream na pele e pachuli nos lenço:
Carregava-se de braceletes, de anéis, de colares.