Uma vez apareceu a Lua; então não deixaram de dizer algumas frases a propósito, achando o astro melancólico e cheio de poesia; até Emma se pôs a cantar:
Lembras-te daquela noite? Vogando os dois, etc.
A sua voz harmoniosa e fraca perdia-se sobre as ondas; e o vento levava os garganteios que Léon ouvia passar, como um bater de asas, em torno dele.
Ela ia de pé, do outro lado, encostada à parede da chalupa, onde o luar entrava por um dos postigos abertos. O vestido negro, cuja saia se alargava em leque, tornava-a mais esguia e mais alta. Tinha a cabeça erguida, as mãos unidas e os olhos voltados para o céu. Às vezes, a sombra dos salgueiros escondia-a por completo, para voltar subitamente a aparecer, como uma visão, contra a luz da lua.
Léon encontrou no chão, perto dela, uma fita de seda cor de papoila. O barqueiro examinou-a e acabou por dizer:
- Ah!, deve ser dum grupo que levei a passear no outro dia. Vieram uma quantidade de folgazões, homens e mulheres, com bolos, champanhe, cornetas, uma data de coisas! Havia sobretudo um homem alto, bem apresentado, de bigodinho, que era bastante divertido! E diziam-lhe assim: «Anda lá, conta-nos qualquer coisa..., Adolphe..., Dodolphe..., creio eu.»
Emma estremeceu.
- Sentes-te mal? - perguntou Léon, aproximando-se dela.
- Não, não é nada! Naturalmente é da frescura da noite.
- Também a ele não deviam faltar mulheres - acrescentou em voz baixa o velho marinheiro, julgando dirigir assim ao estranho uma amabilidade.
Depois, cuspindo nas mãos, voltou a pegar nos remos.
Tiveram, no entanto, de se separar! As despedidas foram tristes. Era para casa da Tia Rolet que ele devia escrever; Emma fez-lhe recomendações tão precisas sobre a maneira de utilizar um duplo sobrescrito, que ele ficou muito admirado com a sua astúcia amorosa.