— Pouca atenção, Heitor, tens dado aos aliados que, longe da pátria e dos amigos, estão aqui a sacrificar-se por tua causa. Sarpedão, o grande chefe dos lícios, está morto, atingido pela lança de Pátroclo. Defendam ao menos o seu cadáver, não consentindo que o inimigo, irritado pelas muitas perdas que lhe temos infligindo, o ultraje.
Heitor ficou abalado com a notícia pois, embora Sarpedão fosse estrangeiro, era o chefe dos lícios e grandemente apreciado por todos e considerado um dos baluartes de Tróia.
Conduzidos por Heitor, os troianos retomaram decididamente o ataque esforçando-se por afastar os gregos do cadáver de Sarpedão, a fim de evite que o despojassem. Conseguiram até matar um dos mais valentes mirmidões, que mexia já no corpo do guerreiro abatido. Atirou-lhe Heitor cor uma enorme pedra à cabeça, rachando-a de alto a baixo. Mas Pátroclo enfureceu-se com a morte do companheiro e avançou com redobrado ímpeto, matando alguns dos fortes guerreiros troianos e obrigando o inimigo a retroceder, inclusive Heitor.
Meríones matou o famoso Laógono, ferindo-o por baixo do queixo Desejoso de vingança, Eneias atirou-lhe com a lança. Apercebendo-se disso, Meríones desviou o corpo e a arma foi cravar-se no chão. E assim si encarniçava a luta em torno do cadáver, que já era difícil de reconhecer tão coberto estava de poeira e de sangue.
Por fim, acabaram os troianos por ceder terreno e o próprio Heitor vendo-se desamparado dos deuses, subiu rápido para o carro e afastou-se concitando os guerreiros a segui-lo. Os gregos arrancaram do peito de Sarpedão a reluzente armadura. Nesse momento, porém, Júpiter ordenou a Apolo que descesse até ao campo de batalha e subtraísse o cadáver das mãos dos seus profanadores. Sem perda de tempo, Apolo obedeceu. Retirando o corpo do alcance das armas dos guerreiros, lavou-o, ungiu-o com óleo, vestiu-o com ricas roupagens e mandou transportá-lo para a Lícia, a fim de ser entregue aos chorosos parentes e amigos, para que lhe prestassem as últimas homenagens e lhe dessem condignas exéquias.