Quando Aquiles acabou de falar, o velho Fénix, com lágrimas nos olhos, tomou a palavra:
— Já que estás resolvido a partir, Aquiles, já que as nossas súplicas não te comovem, como poderei eu ficar longe de ti, querido filho? Foi teu pai, o generoso Peleu, quem me mandou acompanhar-te nesta guerra. Ao sairmos de Ftia, tu eras ainda um jovem inexperiente e ignorante das coisas da guerra. Nem sequer sabias falar nas assembleias e fui eu quem [e ensinou tudo isso. Não poderia abandonar-te agora, nem que um deus me prometesse fazer voltar aos tempos de rapaz, quando fui residir em companhia de teu pai. Outrora eu habitava a formosa Hélade, mas tive de deixá-la porque meu pai se zangara comigo e conseguira das ferozes Erimias que jamais um filho meu se sentasse no seu colo. Fiquei encolerizado com essa maldição e senti desejos de matá-lo. Mas os deuses protegeram-me e afastaram de mim esse mau pensamento. Sufoquei a minha cólera, de molde a que um dia os meus conterrâneos não me pudessem apelidar de parricida, mas não podia permanecer em casa de meu pai. Todos, amigos e parentes, vieram suplicar-me que não partisse, mas eu já tinha tomado a minha decisão. Então, procuraram reter-me pela força. Durante nove dias e nove noites revezaram-se, montando guarda ao palácio para que eu não fugisse. Tudo em vão. Consegui escapar aos guardas, atravessei a vasta Hélade e cheguei à opulenta terra de Ftia. Lá fui bem recebido por Peleu, que se tornou meu amigo e, em breve, passava a considerar-me seu filho. Deu-me imensas riquezas e um reino para governar. Confiou-te também aos meus cuidados e eu transformei-te no homem que hoje és. Não passavas de uma criança arisca e só comparecias aos festins se fosses acompanhado por mim. Sentava-te ao meu colo e metia-te a comida na boca, segurando a taça em que tomavas o vinho. Muitas vezes o derramaste nas minhas roupas, mas e não me aborrecia, pois eras como um filho para mim. E, agora, peço-te que me onças. Nem os deuses são implacáveis como estás a ser. Mesmo ele deixam-se domar à força de orações e de sacrifícios. Portanto, Aquiles, t também deves ceder ante o pedido de Agamémnon e dos mais nobres dá helenos. Se ele não te tivesse oferecido tantos presentes, nem te tivesse prometido outros e permanecesse irado contigo, não te devolvendo o que injustamente te tinha tirado, então eu não insistiria para que nos viesse socorrer nesta grande aflição. Mas ele tudo fez e enviou-nos à tua presença nós que somos os teus melhores amigos. Deu-se outrora um caso semelhante, que me ocorre contar-te: