Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 2: II – PROJECTO DE UM CRIME

Página 17
Estes dois olhos esquadrinhadores e perspicazes, de um azul glacial e gelado, podiam ter servido de modelo a esse famoso olho, temível emblema da: polícia, inventado durante a Revolução. Calçava luvas de seda preta e trazia uma badine na mão. Devia ser personagem oficial, pois no seu todo, na sua maneira de tomar rapé e de o enfiar pelo nariz dentro, revestia-se da importância burocrática de um homem secundário, mas que emerge ostensivamente, e a quem ordens vindas de muito alto dão momentaneamente, poderes soberanos.

O outro indivíduo, cujo trajo era do mesmo gosto, mas elegante, e graciosamente envergado, cuidado nos seus mínimos pormenores, o qual, andando, fazia ranger as botas à Souvorov, repuxadas por cima de umas calças cingidas à perna, vestia sobre a casaca um Spencer, moda aristocrática adoptada pelos Clichianos, a juventude dourada, e que sobrevivia aos Clichianos e à juventude dourada.

Naquele tempo houve modas que duraram mais que os partidos, sintoma da anarquia que já nos exibiu 1830. Aquele perfeito moscadim parecia ter uns trinta anos. Os seus modos respiravam boa sociedade; trazia sobre si jóias caras. O colarinho da camisa chegava-lhe à altura das orelhas. Seu ar enfatuado e quase impertinente acusava uma espécie de superioridade oculta; a sua cara alvacenta parecia sem pinga de sangue, seu nariz, aquilino e fino, tinha o contorno sardónico do nariz de um morto, os seus olhos verdes eram impenetráveis: seu olhar era tão discreto quanto o devia ser a boca fina e cerrada.

O primeiro parecia um pobre-diabo comparado com aquele homem seco e magro que chicoteava o ar com um junco cujo castão de oiro brilhava ao sol. O primeiro podia cortar uma cabeça pelas suas próprias mãos, mas o segundo era capaz de envolver nos fios da calúnia e da intriga a inocência, a beleza, a virtude, afogando-as, envenenando-as friamente.

<< Página Anterior

pág. 17 (Capítulo 2)

Página Seguinte >>

Capa do livro Um Caso Tenebroso
Páginas: 249
Página atual: 17

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - OS JUDAS 1
II – PROJECTO DE UM CRIME 16
III - AS MALÍCIAS DE MALIN 25
IV - FORA A MÁSCARA! 35
V – LAURENCE DE CINQ-CYGNE 43
VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO 54
VII - A VISITA DOMICILIARIA 67
VIII-UM RECANTO DA FLORESTA 78
IX - DESDITAS DA POLÍCIA 90
X - LAURENCE E CORENTIN 104
XI - DESFORRA DA POLÍCIA 117
XII - UM DUPLO E MESMO AMOR 128
XIII – UM BOM CONSELHO 140
XIV -AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO 151
XV - A JUSTIÇA SEGUNDO O CÓDIGO DE BRUMÁRIO DO ANO IV 159
XVI - AS DETENÇÕES 168
XVII - DÚVIDAS DOS DEFENSORES OFICIOSOS 178
XVIII – MARTA COMPROMETIDA 190
XIX-OS DEBATES 196
XX – HORRÍVEL PERIPÉCIA 212
XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR 222
XXII-DISSIPAM-SE AS TREVAS 236