Havia uma noite e um silêncio.
«Esta situação prolongou-se um momento, e depois foram de súbito unanimemente compelidos a falar sobre a fuga. Desde o primeiro instante -:-i que o barco se ia afundar.' 'Foi mesmo no último minuto.' 'Escapámos por um triz - caramba!', diziam. Ele permaneceu calado, mas a brisa que caíra voltou a soprar, uma corrente de ar, branda, que ia refrescando regularmente, e o mar juntou a sua voz múrmura a esta reacção loquaz que se sucedeu aos momentos do medo sem palavras. Afundara-se! Afundara- e! Sem dúvida nenhuma. Ninguém podia ter feito nada. Repetiam as mesmas palavras e voltavam a repeti-las como se não pudessem parar. Tinha sem dúvida de se afundar. As luzes tinham desaparecido. Não se podia esperar outra coisa. Tinha de ir para o fundo... Ele reparou que falavam como se tivessem deixado atrás deles apenas um barco vazio. Acabaram por concluir que o afundamento não devia ter levado muito tempo, uma vez começado, e parecia causar-lhes esta ideia uma espécie de satisfação. Asseguravam uns aos outros que não devia ter demorado muito. 'Fora para o fundo como um prego.' O maquinista-chefe declarou que a luz do topo do mastro, no momento do afundamento tinha caído 'como um fósforo que se deita para o chão. Ao ouvir isto, o segundo-maquinista desatou a rir histericamente. 'Gosto de... de... ouvir... i... isso, gosto de... ou... ouvir... isso.' Os seus dentes 'continuavam a bater como castanholas', disse Jim, 'e de repente começou a chorar. Soluçava e berrava como uma criança, e com voz entrecortada dizia, no meio dos soluços: «Oh, meu Deus!, meu Deus!, meu Deus!» Calava-se um momento e depois, de repente, recomeçava: «Oh, o meu pobre braço! Oh, o meu pobre bra... a... ço!» Sentia vontade de lhe dar um murro.