Capítulo XXX «Disse-me depois que não sabia o que o tinha levado a ficar, mas não é difícil adivinhar, claro. Simpatizara profundamente com a rapariga indefesa, à mercê daquele 'patife vil e cobarde'. Parece que Cornélio lhe fazia a vida negra e só por falta de coragem, creio, é que não chegava a maltratá-la. Insistia em que ela lhe chamasse pai - 'e com respeito, com respeito', gritava-lhe - e brandia um pequeno punho amarelo diante da cara dela. Sou um homem respeitável, e tu o que és? Julgas que vou criar a filha de outro homem sem exigir respeito? Devias sentir-te feliz por to permitir que me trates assim. Vamos lá, diz: «Sim, pai... » Não?... Espera um pouco.' Depois começava a injuriar a defunta mulher, até que a jovem fugia a correr com as mãos na cabeça. Ele perseguiu-a dentro, fora e à volta da casa, corria por entre as cabanas e acabava por a encurralar num canto, onde ela caía de joelhos com as mãos nos ouvidos; então ele postava-se a uma certa distância e proferia injúrias ignóbeis nas costas dela durante meia hora sem parar. 'A tua mãe era o Diabo, era uma mentirosa e tu também és o Diabo', agarrava num punhado de terra seca ou de lama (havia muita lama à roda da casa) e atirava-lhe aos cabelos. Às vezes, porém, ela continha-se por mero desprezo e ficava silenciosa diante dele, com o rosto sombrio e contraído, e só de vez em quando proferia uma ou duas palavras como ferroadas, que o faziam saltar e estremecer. Jim disse-me que estas cenas eram terríveis. Na verdade, era uma coisa estranha e inesperada nesta região selvagem. O prolongamento de uma tal situação subtilmente cruel era espantoso, quando se pensa bem nisso. O respeitável Cornélio (Inchi Nelyus, como lhe chamavam os Malaios, com uma careta que queria dizer muita coisa) era um homem que tinha muitas razões para estar desapontado.