«Sabe», disse ela, «é tudo tão mórbido...»
Esta afirmação alimentou uma hora de reflexão angustiada. Finalmente, cheguei à conclusão de que, dando o devido desconto a que o assunto é estranho à sensibilidade normal de uma mulher, a senhora não podia ser italiana. Gostaria mesmo de saber se era europeia. Em todo o caso, nunca um latino teria visto nada de mórbido na consciência pungente da honra perdida. Esta consciência pode estar errada, ou pode estar certa, ou pode ainda ser condenada por artificial' e talvez o meu fim não seja um tipo muito vulgar. Mas posso assegurar, sem medo aos meus leitores, que ele não é o produto de um pensamento friamente pervertido. Não é também uma aparição dos Nevoeiros do Norte. Vi passar a sua figura, numa manhã de sol no ambiente banal de um porto do Oriente... súplice... pleno de significação... sob uma nuvem... silencioso. E isto é como devia ser. Era minha obrigação procurar, com toda a simpatia de que sou capaz, as palavras aptas a comunicar o seu sentido. Ele era «um de nós».
Joseph Conrad
Junho de 1917