Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 31: XXXII

Página 476
XXXII

Augusto, ao voltar a casa, sentiu que estava inevitavelmente votado à insónia aquela noite, a última que devia passar na aldeia, não porque os preparativos da jornada lhe impedissem o repouso, mas a luta de tantos pensamentos e paixões encontradas, decerto, lhe disputariam o espírito.

Partir é já uma palavra, que quase nunca se pronuncia com indiferença: partir para não voltar é uma ideia aflitiva, que mais violenta comoção desafia; partir sem esperanças no futuro... poucas torturas da alma se podem comparar a esta! Experimentava-o Augusto.

Era quase uma resolução de suicida a sua. Nenhuma ambição tivera poder sobre ele para o arrancar dali; tivera-o o desespero.

A cada momento, ele próprio surpreendia-se imóvel, abstracto, com os olhos fitos na chama da vela, com a cabeça entre as mãos, sem saber em que pensava, sem consciência de si.

A noite estava sossegada, e apenas o som monótono de uma fonte próxima interrompia o silêncio daquelas horas adiantadas.

Augusto abria um livro, mas lia, como por certo o leitor sabe que se costuma ler em situações idênticas. Ficava-lhe aberto o livro todo o tempo na mesma página.

Levantava-se para fazer os aprestes da jornada, mas havia em todos os seus movimentos uma indecisão, uma falta de consciência, que não deixava dúvidas sobre o estado do ânimo que os regia.

Como que a todo o momento estava esquecendo a que fim convergiam as suas acções; e no meio do cumprimento de uma tenção, perdia a consciência dela.

Parava defronte de um livro, como se irresoluto em saber se o levaria consigo; mas cedo afastava-o de si com enfado.

Examinou depois os papéis e as cartas; queimou tudo. Vestígios de passados devaneios, efusões de uma alma sensível, frutos da juventude e da solidão, a que a primeira inspirava o entusiasmo, e a segunda a melancolia, tudo consumiu; com certo prazer amargo via atear-se a chama, desaparecerem as letras, reduzir-se tudo a cinzas.

<< Página Anterior

pág. 476 (Capítulo 31)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 476

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506