XIX Quando a Sr.ª Joana chegou à sala imediata, achou-se na presença de uma visita inesperada. Era Daniel que, de braços abertos, caminhou para ela, chamando-lhe «a sua boa Joana».
Por muito tempo fora Daniel o querido da velha criada do cirurgião, a qual não se cansava de apregoar por toda a parte que não havia aí menina de rosto mais galante e modos mais bonitos, do que o filho mais novo do José das Dornas. Quando a idade veio imprimir cunho mais varonil àquela beleza, Joana, como mulher que era afinal, não foi insensível à perfeição do tipo masculino, que tantas atenções tinha já merecido ao seu afeiçoado, durante a sua vida de cidade.
Ultimamente porém um pequeno azedume de má vontade viera misturar-se à simpatia da boa mulher. Em Daniel via um futuro rival de João Semana e a dedicação fanática, que votara ao amo, não a deixava encarar desassombrada a probabilidade dessa luta e, sem algum despeito, o novo atleta, que aparecia na arena, de encontro ao velho colosso.
Joana bem se fingia tranquila, dizendo às suas conhecidas e comadres que, enquanto João Semana fosse vivo, ninguém havia de poder fazer-lhe sombra; mas, lá no fundo, não estava satisfeita.
Ainda assim - tal é o poder das antigas afeições - ao ver Daniel vir para ela tão abertamente amável, esqueceram-lhe todas as más prevenções que contra ele tinha, e recebeu-o nos braços com expansão igual.
- Jesus! que mocetão! Ora quem há-de dizer que é este o menino, a que eu dava biscoitos e que trepava, como um gato, pela pereira do quintal acima?! E então como gostava daquelas peras rijas, que nem pedras! Sempre o tempo corre! Eu benzo-me!
- E quando o seu patrão tinha uns quatro pêssegos muito grandes, que destinava para o vigário da vara