XIII Ao chegar a um largo todo plantado de sovereiros, quase seculares, que havia no centro da aldeia, ainda o bom do pároco levava as algibeiras bem fornecidas.
A tarde aproximava-se do fim; estendiam-se já as sombras muito para o oriente, e coloriam-se de vermelho afogueado as vidraças voltadas ao ocaso.
O reitor encaminhou-se para uma das casas de mais miserável aparência, que havia naquele lugar.
- Terminemos por este - dizia o velho consigo.
Empurrou adiante de si a porta desta casa e ia a entrar, quando deu de rosto com Margarida, que saía.
Os olhos vermelhos da sua pupila, a expressão de dor que trazia no semblante, chamaram a atenção do reitor.
- Que tens, Margarida? - perguntou ele com solicitude. - Esses olhos são de quem chorou.
- É que despedaça o coração ouvi-lo.
- Então está mais doente?
- Está muito mal.
- E aonde ias tu?
- A casa. O boticário quer o dinheiro dos remédios...
- Que não vá arruinar-se o homem. Deixa que tem de me ouvir. É pior que o pior dos seus cáusticos. Porém não tem dúvida, que eu venho bem provido. Entra, mas antes alegra-me esse rosto.
Vamos.
E os dois entraram na sala. O interior da casa não contradizia o aspecto de fora.
Era a casa de um pobre.
Com a cabeça encostada nas mãos e os cotovelos apoiados na mesa, estava um homem encanecido e pálido - tão absorto, que nem deu pela chegada do reitor, o qual se aproximou dele lentamente.
Este homem era o infeliz, que servira de mestre a Margarida.
O pároco ficou por algum tempo a observá-lo em silêncio; vendo porém que não era sentido, dirigiu-lhe a palavra:
- Que grande dormir é esse, Sr. Álvaro, que nem dá pela chegada de um amigo?
O velho levantou finalmente a cabeça, como sobressaltado por aquela voz.