Depois, lembrando-se de Carlos:
– Aquele traquinas também! Valha-me Deus!
Em seguida para os caixeiros:
– Os senhores podem ir embora. Vão às máscaras, vão; e olhem se têm juízo e não arruínem a saúde. Adeus. Eu ainda fico.
– Mas se quer que o ajudemos, Sr. Manuel Quintino… – disseram eles, por deferência.
– Eu quero mas é que me deixem. Vão com Deus.
Os caixeiros não se fizeram rogar.
– Agora, juízo – continuou Manuel Quintino, ficando só – juízo, senão só chego a casa à noite e a Cecília há-de estar com canseira já. Como se transtornou hoje tudo! Eu, que contava acabar com isto mais cedo, pois levava o serviço adiantado, e vai… Como diabo lhe deu o rapaz para vir hoje ao escritório?… Bom moço, isso lá é, um coração de pomba… A cabeça é que… E nisto de negócio, então!… Eh! eh! eh!… E o pai a imaginar há pouco… A gente sempre tem cegueiras pelos filhos! Cala-te, boca, que também não podes falar! Coitados dos pais! E o velho quer-lhe deveras… Toda a sua pena é o rapaz não tomar gosto para o comércio. Aquilo também muda… Verduras! Bom rapaz! Bom rapaz! Tem a quem sair. O pai, um homem de bem às direitas… a mãe, era uma santa senhora… Pois a irmã? Isso então nem falemos… Um anjo! E pensar que não são católicos! A falar a verdade! Ora adeus! Protestantes destes, que remédio tem S. Pedro senão ir recebendo-os no Céu.
Em consequência da visita de Carlos, só às três e meia foi que Manuel Quintino pôde terminar a sua tarefa e fechar o escritório, para voltar a casa com apetite no estômago e tranquilidade no coração. Já vê o leitor que tinha razão Carlos ao assegurar que não era das mais proveitosas a sua ingerência nos negócios comerciais.