XV - Vida inglesa O jantar correu, ao princípio, silencioso, como de costume.
Mr. Richard, apesar de tudo quanto prometia aquele seu ar de satisfação, fazia as honras da mesa, usando de monossílabos, e não se dava ao trabalho de formular uma oração inteira, sempre que com qualquer palavra solta lhe era possível exprimir o pensamento.
– Roast-beef?… Salame?… Fiambre?… Ostras? – Era a maneira pela qual ele perguntava a Carlos ou a Jenny quais os pratos de que preferiam servir-se.
– Mostarda… Queijo… Aquilo… Isto… Traz… Tira… Leva… – Eram as ordens que recebiam os criados, os quais manobravam com uma prontidão, seriedade e silêncio essencialmente britânicos.
Carlos não se mostrava mais expansivo. Além da pouca disposição para falar, que em regra sentia diante do pai, estava naquela tarde muito fora das habituais condições de espírito, e em outra qualquer companhia decerto lhe estranhariam igualmente a taciturnidade.
Jenny dava algumas ordens, em voz baixa, aos criados, que se inclinavam diligentes para escutá-la; fazia, no mesmo tom, uma ou outra observação a Carlos, e aventurava até algumas perguntas ao pai, sem que lhe fosse possível contudo generalizar conversa.
Tudo isto, a regularidade e perfeito método de serviço, a gravidade e asseio dos criados, e a meia claridade da sala, dava não sei que aspecto solene ao acto, como se fosse uma cerimónia fúnebre.
À medida, porém, que se repetiam as libações e que o efeito dos variados vinhos se combinava na cabeça de Mr. Richard, o velho inglês principiou a despir-se desta soturna gravidade e a língua a desencadear-se-lhe, rompendo aquela espécie de mutismo que lhe impunham as regras da etiqueta britânica.
Verificava-se nisto uma opinião de Fielding, escritor que disputava a Sterne as predilecções literárias de Mr.