Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 19: XIX - Agravam-se os sintomas

Página 222
XIX - Agravam-se os sintomas

Com toda a sua natural bondade e superior penetração de espírito, cometera Jenny uma imprudência.

Não hesitando em confessar ao irmão as apreensões que sentia, ao pensar nos resultados da visita feita por ele a Cecília, deixando-lhe entrever a possibilidade de que se originasse daí, para a pobre rapariga, um desses sentimentos a que imprudentemente se abrem os corações juvenis e que tão depressa adquirem às vezes a força de paixão, Jenny, a previdente Jenny, apressara o mal que julgara conjurar assim.

Escutando-a, Carlos, longe de reflectir nas sérias consequências que podia arrastar consigo tal paixão, se porventura nascesse, estava sentindo um agradável prazer em a ouvir falar na possibilidade dela; sorria-lhe já sedutoramente esse amor, nas mal delineadas formas sob que lhe aparecia, como coisa de futuro e contingente ainda que era.

Toda a cautela é pouca com estas imaginações, sempre prontas a voar para a região dos sonhos dourados.

É preciso usar para com elas da prudência que se deve ter com as crianças surpreendidas à borda de um abismo; o brado, que se soltava instintivamente com o fim de as salvar, é que muitas vezes as precipita; mais vale encomendá-las à Providência e não lhes mostrar o perigo, senão depois dele passado. Há situações na vida em que também o coração se aproxima, brincando, de um despenhadeiro; todo o conselho neste caso é igualmente arriscado; o sobressalto que produz pode efectuar a queda.

Aconteceu isto com Carlos Whitestone.

É notável a importância que, nestas coisas de coração, damos à opinião alheia! Andamos muito tempo a hesitar sobre o nome de certos sentimentos que nos inspira uma mulher e, apesar de contínuo reflectir, não ousamos chamar-lhe amor; um dia, porém, encontramos o primeiro estouvado, que se lembra impensadamente de o classificar como tal, e logo a nossa opinião a curvar-se perante tão ponderosa autoridade.

<< Página Anterior

pág. 222 (Capítulo 19)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 222

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432