XXXIV - Manuel Quintino alucinado Melhor do que qualquer dos personagens desta cena, prevê o leitor os motivos do aparecimento de Manuel Quintino na sala e do estado de perturbação em que se apresentou.
As revelações da criada tinham-no feito já, como vimos, sair desorientado. Chegando a casa de Mr. Richard, soube, do criado de Carlos, que Cecília havia entrado pela manhã no jardim; mas conjecturava este que ela provavelmente se retirara já, porque a não vira mais em casa. – Os criados, que serviam à mesa, confirmaram a conjectura, assegurando a Manuel Quintino que Cecília não tinha assistido ao jantar.
Não é possível dizer que ideias se sucederam no espírito de Manuel Quintino ao ouvir tudo isto. Correu-lhe pela vista o véu das névoas que antecedem uma vertigem. Tomou-se-lhe o coração de dor e de cólera; esqueceu todas as considerações que poderiam ainda sopeá-lo, e rompendo, em vociferações incoerentes, por entre os criados que o rodeavam, apareceu, como vimos, verdadeiramente alucinado diante de Mr. Richard e dos estupefactos convivas.
O olhar de Manuel Quintino, animado por expressão estranha, correu em um momento a sala.
A ausência de Cecília acabou de perturbar o velho.
Fitou Carlos, cheio de raiva pronta a fazer explosão, e atravessando, com andar mal seguro, o espaço que o separava dele, veio pousar-lhe a mão no ombro, dizendo em voz sufocada e trémula por o esforço que fazia a reprimir a violência da paixão crescente:
– Sr. Carlos, eu venho aqui saber da minha filha.
A estas palavras, Jenny descorou. Os dois ingleses conservaram-se boquiabertos; Mr. Whitestone não desviou mais de Manuel Quintino e de Carlos o olhar penetrante.
– Sr. Carlos! – repetia Manuel Quintino, com uma expressão em que se revelava ao mesmo tempo a angústia e a cólera.