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Capítulo 36: XXXVII - Como se educa a opinião pública

Página 407

Como sempre acontece, à medida que a notícia se transmitia, ampliavam-se os serviços de Manuel Quintino. A opinião pública, que até então nem atentara nele, supondo-o um ente inteiramente nulo, sofreu um destes reviramentos súbitos, de que por certo os leitores hão-de conhecer exemplos.

Em um grupo de negociantes, estacionados no passeio da Rua dos Ingleses, discutia-se toda a manhã Manuel Quintino. Um insistia em dar a entender aos colegas que havia muito adivinhara o homem; outro proclamava-o já o primeiro guarda-livros do Porto; outro fazia valer o seu profundo conhecimento da língua inglesa; outro a sua perfeição caligráfica; outro a sua actividade, o seu desembaraço em operações e escrita comerciais, e a sua longa prática, etc., etc.

– Disse-me há pouco Mr. Whitestone – acrescentou a isto tudo um barão – que o homem tem já o seu pecúlio bem bonito.

Mr. Whitestone não se esquecera desta parte do plano de Jenny.

– Que dúvida! – disseram alguns.

– Sabem o que ali está? – fez notar um brasileiro. – É um bom director de banco.

– E olhe que é verdade.

Esta opinião prova a que ponto subira, em poucas horas, o crédito de Manuel Quintino. Julgá-lo apto para director de um banco era o mais alto grau a que podia elevá-lo o conceito público. Tal foi o efeito do artifício de Jenny.

Mr. Richard via com prazer o bom êxito do plano. O amor-próprio de artista estava a sufocar o resto de preconceitos que ainda sobreviviam nele. Por prudência chamou de parte Mr. Brains, que viu na Praça, e deu-lhe a entender que convinha não falar na cena do jantar da véspera.

– Porque, Mr. Brains – disse ele –, bem vê que aquele pateta do Charles portou-se de maneira que será pouco airoso para um inglês se se vier a saber…

Feita esta reflexão, o orgulho nacional terminava a obra, encadeando a língua de Mr.

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pág. 407 (Capítulo 36)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 407

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432