XXXVIII - Justificação de Carlos No dia seguinte, pela manhã, era a Sr.a Antónia introduzida com muita deferência no quarto de Jenny. A criada de Manuel Quintino estava penhorada com tantas atenções, e era já, de corpo e alma, criatura da inglesinha, como ela chamava a Jenny Whitestone.
Jenny fê-la sentar junto de si e pediu-lhe que lhe dissesse quanto sabia da tal senhora a quem aludira na véspera.
Antónia com muitas digressões, a que era inclinada, contou como naquela manhã, passando por a Rua de Santa Catarina, vira estar o Sr. Paulo, segundo-caixeiro do escritório de Mr. Richard, falando, da rua para a janela, com uma senhora, que lhe sorria com afecto. Antónia, obedecendo a natural curiosidade, afirmou-se na tal senhora e reconheceu-a a mesma que procurara Carlos e saíra com ele naquela manhã em que Antónia viera colher informações da Sr.a Josefinha da Água-Benta.
– Era ela sem tirar nem pôr. Enquanto a mim, alguma comediante de teatro, porque dizem… mas perdoe-me a senhora o eu estar com isto.
Jenny fingiu não atender à opinião de Antónia e perguntou:
– E diz então que mora?
– Na Rua de Santa Catarina.
E entrou na minuciosa descrição da casa, com todas as particularidades que a pudessem fazer conhecida.
Jenny já não tinha nada mais a saber de Antónia.
Ao recompensar generosamente a boa vontade da informação, disse, como para acalmar os escrúpulos fictícios de Antónia:
– Creia que lhe fico ainda obrigada por o que me contou. E agora tenho a pedir-lhe outra coisa.
– Diga, minha senhora, diga.
– A Sr.a Antónia não há-de dizer que veio aqui.
– Ora essa!
– Estou certa que não diz; além disso, fale verdade, quer muito mal a meu irmão?
– Eu, minha senhora? – disse Antónia, visivelmente enleada com a interpelação.