– É provável que sim. Quase todos são injustos para Carlos, antes de o conhecerem. Depois, vendo como ele é bom, generoso e delicado, acabam por adorá-lo.
A Sr.a Antónia ficou abalada nos seus juízos a respeito dos dotes críticos da cunhada da sobrinha do homem da sua comadre.
– Ora diga – continuou Jenny –: não são prevenções somente as que tem contra meu irmão?
– Sim… eu… quero dizer… a falar a verdade…
– Pois bem; só lhe peço que, durante alguns dias, não pense bem nem mal de Carlos, até… até ter notícias minhas.
– Ó minha senhora, pois eu pensava lá…
– Vá, vá, Sr.a Antónia, para que Cecília não desconfie. Não lhe diga coisa alguma, nem fale na tal senhora…
– Esteja descansada.
Logo que Antónia saiu, Jenny deu ordem para prepararem o carro.
E quando lhe anunciaram que esta ordem estava cumprida, desceu ao portal e, entrando para o carro, disse ao criado, que a ajudou a subir:
– Ao alto de Santa Catarina.
Em pouco tempo, achou-se transportada lá. Jenny, pelos sinais que recebera de Antónia, e que conservava de memória, pôde reconhecer a casa da tal senhora e mandou parar defronte dela.
Só então hesitou pela primeira vez nesta série de actos, a que obedecera como subjugada por quase instintiva violência.
– Em casa de quem vou eu entrar? – pensou ela. – Que mulher será esta? Carlos afiançou-me… porém…
À porta da casa contígua estava um criado, olhando com curiosidade para o carro em que viera Jenny.
Jenny mandou perguntar a este criado informações a respeito da senhora que vinha procurar.
Obteve a resposta de que morava na tal casa uma senhora viúva, na companhia do filho.
Jenny não hesitou mais; saltou para o passeio e tocou a campainha.
Passados minutos, era recebida em uma modesta, mas asseada sala, por uma senhora, ainda bela, apesar de haver já passado o verdor da juventude.