Agora como que sentia vergonha de ter a sua afeição resistido inteira ao delito filial, e de não lhe restar já no coração força bastante para reprimir as expansões dela.
– Aí está – dizia Mr. Richard a Jenny, procurando com um tom sacudido tirar às palavras a menor sombra de afecto. – Se quiseres, podes dar isso a teu irmão. Para ele é que eu o destinava, se ontem…
Jenny tomou o relógio das mãos do pai, a quem agradeceu com um sorriso de ternura.
Mr. Richard prosseguiu:
– Que eu não sei se Carlos o quererá; ainda que é objecto de preço…
– O maior preço é ser uma lembrança sua, senhor.
Mr. Richard resmoneou um monossílabo inglês e ensaiou um gesto de inveterado cepticismo, que não lhe saiu muito expressivo.
Jenny acrescentou:
– E de mais preço ainda, se das suas próprias mãos o recebesse.
– Queres talvez que vá acordar Carlos, para que me faça o favor de aceitar as minhas prendas? – perguntou o pai com certo azedume.
– Mas se… logo ao jantar…
– Talvez não nos dê a honra de nos fazer companhia.
– Oh! se Carlos soubesse…
– Nada, nada. Entrega-lho tu, se quiseres.
E, dizendo isto, saiu da sala, atravessou o jardim e dentro em pouco tempo transpunha o portão da rua.
O criado, que o encontrou no corredor, ouviu-o murmurar ainda:
– Parece muito mal.
Mas, chegando à rua, já ia aparentemente satisfeito. Caminhava com a rapidez peculiar ao povo para o qual o tempo é dinheiro, dirigia ao favorito Butterfly frases de cordial afecto e trauteava por entre dentes o popular – Cheer, boys, cheer!…