Em uma das pequenas casas que mais se aconchegavam à igreja, e distanciada desta apenas por um pequeno largo, a que chamam adro, habitava em outro tempo, em companhia da sua avó, única parente que então lhe restava, a mais alegre, linda e engraçada rapariga daqueles arredores.
Chamava-se Rosa, e tinha apenas dezoito anos.
Não era uma dessas corpulentas mocetonas, de faces vermelhas e roliças, de grandes olhos castanhos e cabelos de azeviche, de que o nosso belo Minho nos dá tão apreciáveis exemplares. A Rosa do Adro, como lhe chamavam, era, muito ao contrário, alta e de compleição delicada; tinha o rosto um pouco comprido, as faces aveludadas e cobertas de um ligeiro rosado, os lábios finos e vermelhos, os dentes pequenos e brancos, os olhos cor do céu, umas vezes travessos, outros meigos e de uma languidez angelical, os cabelos louros e nédios, e as mãos e os pés pequenos e bem conformados.
Era um conjunto de belezas e graças que enfeitiçavam os olhares mais descuidados e indiferentes.
Fazia gosto vê-la ao domingo, na missa do dia, vestida com a sua saia baeta-crepe, a cabeça caprichosamente envolta num lenço de cambraia, cuja alvura mais deixava sobressair o alourado dos seus cabelos e o rosado das faces, os virgíneos seios cuidadosamente recatados por um grande lenço de flores vermelhas, simetricamente encruzado, e cujas pontas vinham unir-se, por um nó, atrás, na cintura delicada e flexível, já apertada por um colete de fustão amarelo, salpicado de pequenas flores encarnadas, os braços cobertos até aos pulsos pelas mangas largas de uma camisa alvíssima e os pequenos pés semi-calçados num as apuradas chinelas de duraque com biqueiras de verniz.
Quando ela e a sua avó, dirigindo-se para a igreja, apareciam no adro, um rumor surdo, uma exclamação de alegria exalava-se de todas as bocas.