Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 3: CAPÍTULO 1

Página 4
CAPÍTULO 1

Por 1895, não sei bem como, achei-me estudando Direito na Faculdade de Paris, ou melhor, não estudando. Vagabundo da minha mocidade, após ter tentado vários fins para a minha vida e de todos igualmente desistido - sedento de Europa, resolvera transportar-me à grande capital. Logo me embrenhei por meios mais ou menos artísticos, e Gervásio Vila-Nova, que eu mal conhecia de Lisboa, volveu-se-me o companheiro de todas as horas. Curiosa personalidade essa de grande artista falido, ou antes, predestinado para a falência.

Perturbava o seu aspeto físico, macerado e esguio, e o seu corpo de unhas quebradas tinha estilizações inquietantes de feminilismo histérico e opiado, umas vezes - outras, contrariamente, de ascetismo amarelo. Os cabelos compridos, se lhe descobriam a testa ampla e dura, terrível, evocavam cilícios, abstenções roxas; se lhes escondiam a fronte, ondeadamente, eram só ternura, perturbadora ternura de espasmos dourados e beijos subtis. Trajava sempre de preto, fatos largos, onde havia o seu quê de sacerdotal - nota mais frisantemente dada pelo colarinho direito, baixo, fechado. Não era enigmático o seu rosto - muito pelo contrário - se lhe cobriam a testa os cabelos ou o chapéu. Entanto, coisa bizarra, no seu corpo havia mistério - corpo de esfinge, talvez, em noites de luar. Aquela criatura não se nos gravava na memória pelos seus traços fisionómicos, mas sim pelo seu estranho perfil. Em todas as multidões ele se destacava, era olhado, comentado - embora, em realidade, a sua silhueta à primeira vista parecesse não se dever salientar notavelmente: pois o fato era negro - apenas de um talhe um pouco exagerado -, os cabelos não escandalosos, ainda que longos; e o chapéu, um boné de fazenda - esquisito, era certo -, mas que em todo o caso muitos artistas usavam, quase idêntico.

<< Página Anterior

pág. 4 (Capítulo 3)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Confissão de Lúcio
Páginas: 93
Página atual: 4

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
A CONFISSÃO DE LÚCIO 1
PREFÁCIO 2
CAPÍTULO 1 4
CAPÍTULO 2 22
CAPÍTULO 3 40
CAPÍTULO 4 51
CAPÍTULO 5 57
CAPÍTULO 6 64
CAPÍTULO 7 81
CAPÍTULO 8 90