Então os outros rapazes disseram-lhe que os fatos luxuosos viriam muito em breve, logo que começassem as aventuras, dando-lhe a entender que aqueles tristes farrapos serviam bem para começar, embora fosse costume os piratas ricos terem boas roupas para principiarem a sua carreira.
Pouco a pouco a conversa foi rareando e os três amigos começaram a sentir os olhos pesados de sono. Os dedos do Mãos Sangrentas deixaram escapar o cachimbo, em breve caiu no sono dos justos e dos cansados. O Terror dos Mares e o Vingador Negro do Mar das Antilhas tiveram mais dificuldade em adormecer. Rezaram as suas orações em pensamento e deitados, visto que não havia ninguém com autoridade para os fazer ajoelhar e rezar em voz alta.
Em boa verdade, tinham-se deitado na intenção de as não rezar, mas recearam ir longe de mais e merecer o castigo do Céu. Quando acabaram de rezar, julgaram que iam dormir logo, mas houve uma coisa que os não deixou, e que foi a consciência. Começaram a temer que a sua fuga fosse condenável; em seguida lembraram-se da carne roubada e então começou a verdadeira tortura. Tentaram libertar-se dela, dizendo a si próprios que já muitas vezes tinham furtado gulodices e maçãs, mas a consciência não se deixou tranquilizar com tão fracas desculpas; parecia-lhes afinal inegável que tirar gulodices era apenas «surripiar», enquanto tirar toucinho, presuntos e coisas de valor semelhante era clara e simplesmente «roubar», contra o que havia na Bíblia um mandamento. Foi então que, no seu íntimo, decidiram que, enquanto tivessem aquela vida, as suas piratarias nunca seriam manchadas pelo crime de roubo. Nessa altura a consciência deu-lhes tréguas e os inofensivos piratas adormeceram profundamente.