Nem sequer se ouviam. Cada um narrava a sua ânsia, dizia a história pobre ou doirada da sua alma. Pelos sótãos, nas mansardas e nos saguões, encontrava-se aquela levada cismática, tolhida de sonhar. Duns para os outros ia o emparedado e falava-lhes com palavras que os doloriam e lhes faziam precipitar as ilusões represas...
É verdade afinal que há árvores e fontes todas de oiro? Porque é que eu nasci para sofrer? Porque é que existem vidas, como a de certas sementes, que não chegam a ter força de germinar?
Tocados dessa primavera negra cada um, à força de sonhar, criara uma figura, desdobrava-se. Dos seres trágicos, rotos, calcados, nascera uma aparição de beleza estranha; de outros névoa, fantasmas. Todos traziam o seu companheiro – e havia homens acompanhados por árvores, pelo ódio, pelo riso e por monstros... Um momento e estas figuras adquiriram a sua verdadeira expressão, um momento e Árvore, Hospital, pedras, tiveram outra significação... E os desgraçados querem ver. Querem ver o que se passa para lá das pedras, para lá do mundo atroz.
– Ei-los que deitam flor! ei-los que deitam flor!...
E na noite eles botavam realmente flor, sonhos tristes, mealhas, almas que nem sequer podiam exalar ilusões, sonho de sebes, de calhaus, de tudo que no planeta se cria de ignorado, de calcado e de humilde.