Que precisas para o sentir? Amor.
Vive uma vida simples, a vida de que os pobres se aproximam, com emoção e o teu pedaço de pão negro, olhando o prodigioso mistério, e serás feliz.
Lavra o teu campo, e, nas horas perdidas, olha, prende-te à abóbada do céu, ao homem, à montanha, à árvore, ao mar – e ouvirás Deus em ti, sentindo atravessar-te uma frescura mais viva do que a água das rochas.
Deus está muito perto de ti – e é por isso mesmo que não o vês. A dois palmos da secura passa muitas vezes um veio de água escondido. Basta cavar na crosta da terra, para que o chão gretado e pedregoso se transforme. Que torrente de emoção não vai atravessando os mundos, os homens, as folhas secas e os globos de oiro do céu!
O homem enredou-se de tal forma na ambição, no ódio, na guerra, que perdeu o sentido da vida – tão simples e tão larga – e que deixou de ver Deus, sempre presente ao seu lado.
Para o encontrar, precisa de voltar ao amor das coisas simples e grandes – ao amor dos seus irmãos, da natureza, e de abrir o seu coração a esse fluido misterioso.
A vida artificial é que transformou o homem. Da vida artificial é que nasceu o orgulho, é que nasceram a ambição, os erros, o crime – e até a piedade. Se todos vivêssemos da verdadeira existência – o homem seria feliz. Como se pode redimir tudo isto? Pregando o Amor.
Só o Amor nos pode ainda salvar.
Agora vejo! agora vejo! Que montão de infâmias!
que montão de crimes! O homem trabalha desesperado, atrás do oiro, da ambição, da vaidade, do sonho vão, para quê? Para ser desgraçado. Um trabalho férreo e hercúleo – para gritar, e encontrar-se ao fim, a dois passos da cova, com inutilidades, carregado de dores e de opróbrios. Não hesitou em despedaçar, em calcar, em mentir – em busca do que ele julgava a felicidade, e que era apenas o erro.