XXI - Aí têm os senhores a natureza! CAPÍTULO INSERIDO NA 2ª EDICÃO
Nessa madrugada o Pita arrastou o Gabiru por um esgoto que do prédio ia desaguar ao outro lado do Hospital e de que só ele sabia a existência. As paredes arrombara- as donde a onde a raiz torcida da árvore.
– Anda! anda! Estas raízes são mais duras que a pedra. Nada lhes resiste, nem o granito. A árvore há-de acabar por nos tragar a todos.
Tinha chovido na véspera e era ainda noite quando saíram do esgoto. Abala-os logo uma lufada de ar vivo, deste ar que é como a água da rocha, que apetece sempre beber e que traz consigo existências de árvores, cheiinho de emoção. Param. Uma brancura, nebulosa na cova onde se criam mundos, ainda erra esparsa. No céu brilham estrelas e sente-se sobre as terras lavradias o nevoeiro espesso, que das árvores tomba em gotas grossas como chuva de verão. Os troncos além são espectros e outros, mais longe, de todo desaparecem. Ao norte luz uma estrela enorme. Sobre o monte abre-se um rasgão de claridade.. Eis o sol fraco, escorrendo por entre troncos, misturado de branco e sem calor, tal qual luar. Nos regos do arado correm rolos de névoa e a verdura da erva, na manhãzinha, é imaterial, como se fosse a respiração da terra. As aves, nas moutas, começam o seu dia cantando.
– Que sentes? – pergunta o Pita ao Gabiru.
– Espera! espera! – diz o outro entontecido.
– Ouço gritos e só vejo uma brancura e gestos...
Mas o que eu ouço! que sem-número de vozes, de palavras precipitadas!
– Vês árvores?
– Só vejo um clarão. ?S como um relâmpago, ofusca-me! Mas o que eu ouço! Quantos gritos, que amálgama de gritos! Sei agora que existem árvores porque ouço o seu ruído e a sua voz...
– Procedamos com método.