.. E todos se riram de mim, todos!... Ninguém se importa. Quem quer saber da desgraça dos outros? Ai a minha filha!
Começou uma vida desorientada e feroz. Parecia que de todos os lados havia vozes a clamar, a escarnece-lo:
ó Gebo! ó Gebo! – Nunca mais houve paz na terra para ele: mesmo no lar tinha certos a toda a hora os ralhos da mulher desvairada e as lágrimas silenciosas da filha.
Oh essas horas em que olhara perdido em volta e só vira secura e risos! essas horas tinham-lhe deixado suor de aflição para o resto dos seus dias. Tudo se arrasara. E curvava-se sob as palavras da mulher, amachucado, sem forças para lutar, quebrado pelos desenganos e pela indiferença dos outros.
– E agora? Agora? – perguntava-lhe ela.
E ele caído:
– Agora não sei... Agora morremos todos à fome.
Batera em vão a todas as portas, aniquilado, sem ideias e sem forças. Só sabia chorar, mole e grotesco, enquanto a mulher, que a desgraça secara, lhe atirava impropérios, gritos:
– Mas levanta-te! procura! salva-nos!
Anda, Gebo! E ele lá saía, tornava aos amigos, pedinchão, desnorteado, atrás de empréstimos, de demoras, trocando as palavras e desatando de súbito a esbracejar com gritos e soluços.
Deparo às vezes na rua com estes velhos falando só, encostados às paredes, com o casaco no fio. São os velhos pobres, os velhos que chegam ao fim da vida, com olhos de pasmo, sem terem compreendido a vida e habituados à desgraça. E comparo-os com os velhos ricos que passam por mim nos seus carros de guerra, imponentes e duros, como quem avança sentado sobre os depósitos à ordem no banco. A vida acabou de esculpir estas figuras no ponto em que vão morrer. Só mais alguns golpes de escopro, duas ou três marteladas de cinzel e a obra está concluída.